A musicalidade preta e a sua representação audiovisual
Ver um gênero puramente preto ser tomado pela indústria é ver a transformação em direção ao embranquecimento em diversas etapas: a primeira é a mais fácil, pois se transforma os ídolos/musas. Como boa parte das expressões são feitas por homens, as mulheres símbolo do afeto carinhoso tornam-se brancas, fortalecendo a mulher branca como o ideal de feminilidade, a parceira ideal.. É simplesmente a continuação de um racismo secular (no caso brasileiro), agora nas novas mídias.
O segundo passo é tornarem brancos os emissores do gênero: basta vermos como no final dos anos 1990, houve tentativas com o pagode paulista, com o pagodão baiano e mais atualmente, com o cenário do rap e do funk. No caso dos dois últimos, os expoentes – ou pelo menos os que lucram mais – não são pretos.
A música passa por várias transformações, as quando vamos ao visual, à “encarnação” dos sentimentos, dos desejos e vontades, há uma capa branca, um invólucro, sobre um conteúdo fundamentalmente preto.
Como o som tem origem, mas não tem rosto, a possibilidade de moldar as nossas percepções em direção ao padrão brancóide é uma máxima na sociedade brasileira.
A musicalidade e letras como manifestações de nosso desejo e sonhos foi e continua sendo capturado, rumo ao áureo e o cândido.
Ainda os figurantes de si mesmos, mesmo que superficialmente protagonistas nas telas e clipes.